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Treinamento Desportivo

Imersão em Água Fria e a Hipertrofia Muscular

Imersão em Água Fria e a Hipertrofia Muscular

Tradução do artigo – Piñero et al. Throwing cold water on muscle growth: A systematic review with meta‐analysis of the effects of postexercise cold water immersion on resistance training‐induced hypertrophy. EUROPEAN JOURNAL OF SPORT SCIENCE. 2024

No intuito de melhorar a recuperação e o desempenho físico, praticantes utilizam diversas estratégias durante o treinamento de força ou outras competições. Uma dessas estratégias envolve a exposição a temperaturas extremas, como sauna, imersão em água fria e quente e a crioterapia. Estudos mostram que essas práticas podem reduzir a dor muscular, a fadiga percebida e o tempo de recuperação.

Embora a terapia fria seja frequentemente associada à redução da inflamação pós-exercício, evidências indicam que pode não ser mais eficaz nesse aspecto do que atividades de baixa intensidade, como ciclismo leve. Além disso, há controvérsias sobre seu impacto na recuperação de lesões musculares induzidas por exercícios excêntricos.

Entre as diferentes estratégias de terapia fria, a imersão em água fria (IAF) tem sido associada a melhorias na recuperação para alguns tipos de desempenho atlético, embora os resultados possam variar. Estudos recentes indicam que a IAF após exercícios de alta intensidade pode ter efeitos positivos na recuperação, mas a interpretação desses resultados deve ser feita com cautela, considerando fatores como o momento da avaliação, a natureza do exercício anterior e o protocolo de IAF.

Embora atletas frequentemente usem a IAF para melhorar a recuperação e o desempenho imediato, seu impacto nas adaptações crônicas ao treinamento de força pode ser menos claro. Algumas revisões recentes sugerem que a IAF após o treinamento de força pode prejudicar os ganhos de força e potência muscular, mas ainda não há uma meta-análise sobre seu efeito na hipertrofia muscular induzida pelo treinamento de força.

Mecanismos sugerem que a IAF pode ter efeitos prejudiciais no crescimento muscular a longo prazo, incluindo a redução aguda do complexo 1 da proteína alvo mecanístico da rapamicina mTORC1 pós treinamento de força, biogênese ribossomal, síntese de proteínas musculares, atividade de células satélites e níveis de testosterona e citocinas circulantes.

O objetivo deste artigo foi revisar sistematicamente a literatura e realizar uma meta-análise dos dados existentes sobre os efeitos do resfriamento pós-exercício associado ao treinamento de força nos ganhos de hipertrofia muscular.

Esta é a primeira revisão sistemática com meta-análise conhecida que examinou os efeitos da IAF na hipertrofia muscular induzida pelo treinamento de força. Embora a pesquisa indique que a IAF não impede completamente os ganhos musculares, os resultados reportados fornecem algumas evidências de que ela provavelmente atenua as adaptações em comparação com o treinamento de força isolado (sem a utilização da IAF). Com base nesses dados, a aplicação da IAF pode resultar em pelo menos uma pequena redução na hipertrofia, sendo que o intervalo superior credível identifica uma probabilidade relativamente baixa de um efeito prejudicial moderado. A sub análise usando meta-regressão não forneceu evidências de que o status de treinamento alterou a atenuação provável da hipertrofia muscular com a IAF.

Uma hipótese sugere que a IAF altera a resposta inflamatória aguda ao treinamento de força, essa redução nas respostas inflamatórias ao treinamento de força poderia atenuar a produção de espécies reativas de oxigênio e a ativação associada da via da proteína quinase ativada por mitógeno, regulando assim a síntese de proteínas musculares e o potencial anabolismo. Algumas pesquisas relataram uma resposta atenuada de citocinas relacionadas à inflamação ao treinamento de força minutos e horas após a exposição ao frio, incluindo marcadores de inflamação como interleucina-6 (IL-6), fator de necrose tumoral-α e quimiocina ligante 2.

No entanto, existem dados conflitantes, questionando se as reduções pós-exercício nas respostas inflamatórias agudas induzidas pela IAF desempenham um papel na alteração do desenvolvimento muscular. Além disso, a possibilidade de que a IAF afete negativamente o anabolismo por meio de reduções no fluxo sanguíneo pós-exercício para a musculatura é levantada, podendo impactar a proteólise e a regulação da síntese proteica dependentes de nutrientes e insulina. Estudos indicam que a IAF pode reduzir o fluxo sanguíneo para a musculatura exposta ao treinamento de força em comparação com a água termo neutra, e essa redução pode teoricamente resultar em um período prolongado de catabolismo proteico muscular e capacidade de síntese proteica máxima diminuída.


Finalmente, os autores ressaltam que, embora haja um impacto negativo na hipertrofia, esse efeito é praticamente insignificante. Em outras palavras, se a modalidade não requer ganhos significativos de massa muscular ou se uma pequena discrepância não afetar o resultado da competição, parece que os efeitos adversos da IAF não são prejudiciais. Além disso, as análises foram focadas no período imediatamente após o treinamento, e ainda não há respostas sobre como a IAF pode interferir na hipertrofia quando realizada em outros momentos, como antes e algumas horas após o treinamento.

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